20 May 2009

O TELEGRAMA

Juvenal estava desempregado havia meses.

Com a resistência que só os brasileiros têm, o Juvenal foi tentar cavar emprego em mais uma entrevista.

Ao chegar ao escritório, o entrevistador observou que o candidato tinha exatamente o perfil desejado, as virtudes ideais e lhe perguntou:

- Qual foi seu último salário?

- Salário mínimo, respondeu Juvenal.

- Pois se for contratado, o senhor ganhará 10 mil dólares por mês!

Juvenal engoliu em seco ...

- GLUP ... É mesmo?

- Que carro o senhor tem?

- Na verdade, agora eu só tenho um carrinho pra vender pipoca na rua e um carrinho de mão!

- Pois se o senhor trabalhar conosco ganhará um Audi para você e uma BMW para sua esposa! Tudo zero!

- GLUP GLUP ... Jura?

- O senhor viaja muito para o exterior?

- O mais longe que fui foi à Belo Horizonte, sabe, visitar uns parentes...

- Pois se o senhor trabalhar aqui viajará pelo menos 10 vezes por ano, para Londres, Paris, Roma, Dubai, Mônaco, Nova Iorque, etc.

- GLUP GLUP GLUP ... Não acredito!!!

- E lhe digo mais... O emprego é quase seu. Só não lhe confirmo agora porque tenho que falar com meu gerente, mas é praticamente garantido. Se até amanhã (6ª-feira) à meia-noite o senhor NÃO receber um telegrama nosso cancelando, pode vir trabalhar na segunda-feira com todas essas regalias que eu citei.

Então já sabe: se NÃO receber telegrama cancelando até à meia-noite de amanhã, o emprego é seu!

Juvenal saiu do escritório radiante.

Agora era só esperar até a meia-noite da 6ª feira e rezar para que não aparecesse nenhum maldito telegrama.

Sexta-feira mais feliz não poderia haver.

Juvenal reuniu a família e contou as boas novas.

Convocou o bairro todo para uma churrascada comemorativa à base de muita música.

Sexta de tarde, já tinha um barril de chope aberto.

Às 9 horas da noite a festa fervia.

A banda tocava!

O povo dançava!

A bebida rolava solta!

Dez horas, e a mulher de Juvenal, aflita, achava tudo um exagero...

A vizinha gostosa, interesseira, já se jogava pro lado do Juvenal.

E a banda tocava!

O chope gelado rolava!

O povo dançava!

Onze horas, Juvenal já era o rei do bairro.

Gastara horrores para o bairro encher a pança.

Tudo por conta do primeiro salário.

A mulher resignada, meio aflita, meio alegre, meio boba, meio assustada.

Às onze horas e cinquenta e cinco minutos, dobra a esquina, buzinando feito louco, um cara numa motoca amarela...

Era dos Correios!

A festa parou!

A banda calou!

A tuba engasgou!

Um bêbado arrotou!

Uma velha desmaiou!

Um cachorro uivou!

Ai Meu Deus, e agora?

Quem pagaria a conta da festa?

Coitado do Juvenal!

Era a frase mais ouvida.

Joguem água na churrasqueira!

O chope esquentou!

A mulher do Juvenal também desmaiou!

A motoca parou!

O cara desceu e se dirigiu ao Juvenal:

- Senhor Juvenal Batista Romano Barbieri?

- Si... si... sim, so... sou eu... eu mesmo


A multidão não resistiu...

- OOOOOHHHHHHHHHHH!!!!!!!!!!!

E o cara da motoca:

- Telegrama para o senhor...

Juvenal não acreditava!

Pegou o telegrama, com os olhos cheios d'água, ergueu a cabeça e olhou para todos.

Silêncio total.

Não se ouvia sequer uma mosca voando...

Juvenal respirou fundo e abriu o envelope do telegrama tremendo, enquanto uma lágrima rolava, molhando o telegrama.

Olhou de novo para o povo e a consternação era geral.

Tirou o telegrama do envelope, abriu e começou a ler.

O povo em silêncio aguardava a notícia e se perguntava:

E agora?

Quem vai pagar essa festa toda?

Juvenal recomeçou a ler, levantou os olhos e olhou mais uma vez para o povo que o encarava...

Então, Juvenal abriu um largo sorriso, deu um berro triunfal e começou a gritar eufórico:

- Mamãe morreeeeuuu !!!

- Mamãe morreeeeuuu !!!

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